Lançado originalmente para PC em 1995 e posteriormente portado para o Nintendo 64, Hexen: Beyond Heretic é um dos títulos que ousaram misturar ação em primeira pessoa com elementos de RPG e fantasia sombria. Desenvolvido pela Raven Software e publicado pela id Software, o jogo carrega uma herança direta do lendário Doom, mas trilha seu próprio caminho com identidade marcante. Neste review, vamos explorar os principais aspectos do jogo na sua versão para o N64.
Gráficos
Para um título da era inicial do Nintendo 64, Hexen apresenta gráficos modestos, porém eficazes. Os ambientes são escuros, nebulosos e cercados por uma estética medieval decadente que reforça o clima sombrio. O jogo faz uso intenso de texturas pixeladas e efeitos de névoa, comuns aos títulos que migraram do PC para o console, o que pode incomodar quem busca algo visualmente mais refinado.
Os modelos inimigos são simples, mas funcionais. Apesar da baixa contagem de polígonos e da repetição de cenários, há um esforço para criar variedade em castelos, cavernas e templos. A ausência de luz dinâmica é compensada com um uso interessante de paletas de cores sombrias e design arquitetônico labiríntico, reforçando a sensação de estar em um mundo corrompido.
Jogabilidade
Hexen se destaca por oferecer três classes jogáveis: Guerreiro, Clérigo e Mago, cada uma com estilos de combate, armas e estratégias diferentes. Esse sistema traz uma rejogabilidade rara para jogos de tiro da época, além de estimular abordagens distintas.
O game se afasta da linearidade típica de Doom, adotando um sistema de “hub worlds”, onde o jogador transita entre mapas interconectados resolvendo quebra-cabeças e coletando chaves para avançar. Embora inovador, isso também pode tornar o progresso confuso e frustrante, principalmente para quem não está habituado ao backtracking e à ausência de direções claras.
Os controles no Nintendo 64, embora limitados pelo design do controle, são relativamente funcionais. Ainda assim, a navegação por ambientes estreitos pode ser incômoda, e mirar com precisão é um desafio sem mira automática.
Som
A trilha sonora é discreta, mas extremamente eficaz em construir atmosfera. Em vez de músicas marcantes, Hexen opta por sons ambientes perturbadores, como sussurros, passos, trovões distantes e ecos. Isso contribui para o clima de tensão constante, onde o silêncio se torna mais ameaçador do que qualquer grito.
Os efeitos sonoros das armas e inimigos são adequados, reforçando o impacto dos combates, mas sem grande variedade. Ainda assim, o design sonoro cumpre bem seu papel de mergulhar o jogador em um mundo macabro e opressor.
Ambientação
O ponto mais forte de Hexen é, sem dúvida, sua ambientação. O jogo cria um universo gótico-medieval com forte inspiração em fantasia sombria e horror, onde o mundo está dominado por forças demoníacas. Cada classe representa uma faceta da resistência contra o tirano Korax, o segundo dos três Serpent Riders.
A arquitetura opressiva, os símbolos arcanos, as catacumbas e o uso constante de elementos como portais e enigmas reforçam a imersão. Hexen não pega o jogador pela mão, ele convida (ou obriga) o jogador a se perder em suas ruínas e decifrar sua lógica interna, o que pode ser recompensador para os mais persistentes.
Inspiração e legado
Hexen bebe diretamente da fonte de Doom e Heretic – este último sendo o jogo que iniciou a série e estabeleceu o tom de fantasia medieval. A engine gráfica é uma versão modificada da Doom Engine, o que justifica as semelhanças visuais e estruturais.
Veredito
Hexen para Nintendo 64 é uma experiência única e desafiadora, especialmente para os fãs de ação em primeira pessoa que buscam algo fora do padrão. Com sua ambientação sombria, múltiplas classes, e estrutura de progressão não-linear, o jogo oferece uma jornada distinta, embora com barreiras técnicas e mecânicas que podem afastar jogadores menos pacientes.
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